Por Solange Thiers
No entrelace da filosofia, psicanálise e Ramain-Thiers, podemos encontrar na Sociopsicomotricidade elos que interligam o presente ao passado com a preocupação de formar a pessoa: o ser que na vida será um cidadão. Nos homens de hoje desapareceram vínculos amorosos que sustentam o viver, e para conhecer o “ser” somos levados a passar por concepções filosóficas através do tempo.
Aristóteles filósofo grego valoriza a moderação como uma forma de racionalidade prática e a intencionalidade da ação conduzindo a cidadania. Ele classifica “emoções” como formas além de nossas escolhas e da nossa vontade. Emoção, realmente, não é vontade. A psicanálise e Ramain-Thiers trabalham através de emoções, formas acima de nossas vontades, pela emergência do Inconsciente, despertando o consciente, a racionalidade, a moralidade, a partir de uma construção integrada.
Ainda em Aristóteles, encontramos na sua obra Poiética: “Da mesma maneira como alguns imitam muitas coisas, expressando-se por traços e por cores (pela arte ou pela prática), assim também acontece nas citadas artes(…) da melodia e do ritmo valem-se a aulética (arte de tocar flauta) e a citarística além de outras semelhantes (…) que se utilizam com seus movimentos ritmados, para expressar caracteres, emoções e artes.”
Traços… cores… arte… melodia lembram Ramain-Thiers que, em grupo, pela Psicomotricidade diferenciada, utiliza-se de trabalhos como:
cópias, simetrias, entrelaces, encaixes em papel quadriculado feitos através de traço, com uso de lápis de quatro cores, além das tintas e da criação artística. No trabalho corporal, Ramain-Thiers utiliza-se da melodia como fundo para os movimentos corporais que expressam ação, emoção e ritmo. Para Aristóteles estes seriam caracteres. Poderíamos, de forma didática, apresentar a evolução da formação do conhecimento, segundo Aristóteles: Sensação ? memória ? experiência ? arte (técnica) ? teoria/ciência Ramain-Thiers poderia aproximar-se dos princípios Aristotélicos?
Trabalhamos a sensação, o despertar dos sentidos nos momentos das atividades corporais. O grupo em Ramain-Thiers revive momentos de alimentação, de discriminação gustativa e olfativa; daí, simultaneamente surgem lembranças de momentos afetivos vividos. As propostas do despertar da sensação corporal tátil são feitas com o uso de materiais macios, ásperos, esponjosos, cremes e óleos corporais que, trabalhados terapeuticamente nas relações em dupla ou trio, permitem que o psiquismo inscrito no corpo como um discurso de signos e recalques corporais se dissolva pelo movimento psíquico da atualização no setting. A sensação olfativa em Ramain-Thiers é trabalhada através de aromas, lenços embebidos em colônias suaves, sprays ambientais que, em construção criativa grupal, ativam a evocação de lembranças adormecidas na memória. A sensação auditiva é mobilizada e desenvolvida através da melodia que acompanha todas as atividades corporais e que permite – pela diferença da música e do ritmo – liberar tensões através de solos de violino em temas clássicos, músicas africanas rítmicas e sons da natureza em atividades que tanto podem ser de relaxamento como de liberação da agressividade ou ainda de imaginação.>/p>
O processo vai se desenvolvendo de acordo com a necessidade do grupo até que, cada integrante em silêncio e deitado, possa entrar em contato com os sons do seu próprio corpo interior, desenvolvendo a atenção interna. A sensação visual é despertada e trabalhada emocionalmente por imagens e gravuras que permitem a evocação de lembranças de um passado remoto. As sensações despertam a memória, a experiência artística e o gosto pelo belo. A convivência com o belo desenvolve o gosto pelo virtuoso dentro da concepção Ramain-Thiers.
Através da Psicomotricidade diferenciada, os grupos trabalham à semelhança da “techné” aristotélica a atividade do “fazer”, realizando atividades criativas concretas, através das técnicas de Ramain-Thiers. O belo, o estético desenvolve-se como os gregos propunham, buscando “o porquê das coisas”, ou seja, a causa. O “porquê das coisas” torna lúcido o que era confuso, conhecido o que era desconhecido. A atividade manual, o corporal, a experiência do vivenciar, mobilizam todas as áreas do córtex cerebral responsáveis pela construção de um saber teórico, real, que passa do concreto ao abstrato e criam-se os fundamentos filosóficos na Sociopsicomotricidade.
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- Solange Thiers é Psicanalista, Sociopsicomotricista, Presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) e Presidente da Sociedade Brasileira Ramain-Thiers (SBRT)
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Extraído do livro “A Essência dos Vínculos”.
1 ARISTÓTELES. Poiética – col. “Os Pensadores”. Trad. Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultura, 1999, p. 37.
1 MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia. 2ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, p. 80.
Gostaria de indicação de locais para atendimentos de criança, gratuito, que necessita de psicomotricidade.
Preferencialmente em Del Castilho ou Tijuca
Grata
Anete
Anete, não conhecemos locais de atendimento gratuito em psicomotricidade.