Educação Psicomotora Como Prática Pedagógica Na Educação Infantil

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE I CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOMOTRICIDADE XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOMOTRICIDADE

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

AUTORES:


Silvia Fernanda de Souza Lordani
Marília Bazan Blanco
Discente do Mestrado Profissional em Ensino. Universidade Estadual do Norte do Paraná. Email: fernandalordani@gmail.com
Docente do Mestrado Profissional em Ensino. Centro de Ciências Humanas e Educação. Universidade Estadual do Norte do Paraná. Email: mariliabazan@uenp.edu.br

Resumo

Refletir sobre as práticas pedagógicas na Educação Infantil se faz necessário para a compreensão dos processos de ensino e aprendizagem dos escolares nessa etapa escolar. A Educação Psicomotora tem como objetivo estimular o desenvolvimento da criança em seus aspectos motores, cognitivos e socioafetivos.

No contexto escolar, as atividades psicomotoras poderão dar suporte no processo de aprendizagem, já que atualmente, o avanço nos estudos sobre as dificuldades de aprendizagem em escolares vem revelando a relação destas com o desenvolvimento de elementos psicomotores. O presente estudo fundamenta-se na concepção de que a educação psicomotora poderá auxiliar o aluno a potencializar sua aprendizagem escolar e prevenir possíveis dificuldades de aprendizagem.

O objetivo pauta-se na investigação das práticas pedagógicas realizadas por docentes da Educação Infantil de uma instituição pública situada em um município ao norte do Estado do Paraná visando identificar se trabalham a psicomotricidade e de que forma exercem a prática pedagógica em sala de aula.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário, por meio do qual pretendeu-se averiguar a existência da educação psicomotora nas práticas pedagógicas efetivadas pelos professores que atuam na Educação Infantil. Isto posto, os resultados evidenciaram que a psicomotricidade não é trabalhada na sua integralidade com os alunos da Educação Infantil, já que as atividades trabalhadas em sala de aula descritas pelos professores não contemplam todos os elementos psicomotores.

Palavras-chave: Educação Psicomotora; Prática Pedagógica; Educação Infantil.

Introdução

Estudos sobre a educação psicomotora são de grande relevância para a área pedagógica, possibilitam a disseminação do conhecimento sobre a psicomotricidade e o desenvolvimento de práticas psicomotoras, o que consequentemente poderá contribuir nos processos de ensino e aprendizagem dos alunos.

Em um estudo de revisão sistemática de literatura realizado por Lordani e Blanco (2019a), constata-se várias pesquisas que discutem, principalmente, a relação existente entre os elementos psicomotores, desempenho escolar e dificuldades de aprendizagem em crianças, prevalecendo às que correspondem à Educação Infantil.

Verificou-se, também, que uma grande parcela das crianças que ingressam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, encontram-se com atraso psicomotor, possivelmente, devido à falta da experiência com a Psicomotricidade nos anos anteriores de escolarização.

Por fim, constata-se ainda que a psicomotricidade, estimulada desde o início da vida acadêmica, poderá prevenir dificuldades de aprendizagem em escolares; por outro lado, o estudo revelou uma grande lacuna na formação de professores em relação à psicomotricidade.

Neste âmbito, este estudo justifica-se na evidência de que, na grande maioria das escolas de Educação Básica, não se pratica a educação psicomotora. Kolyniak Filho (2010) revela que, desde o início do processo de escolarização, existe uma prática pedagógica centralizada na construção de abstrações conceituais, quase que exclusivamente ao trabalho mental, cognitivo, em situações de relativa imobilidade corporal.

Assim procedendo, constata-se que instituições escolares vêm utilizando metodologias de ensino insuficientes, já que tais insuficiências se revelam nas inúmeras dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos, ocasionando, muitas vezes, em abandono escolar, ou então, na conclusão da Educação Básica sem apropriação adequada de conhecimentos básicos, como a escrita, a leitura e a matemática.

Justifica-se ainda nas análises dos resultados revelados por Lordani e Blanco (2019b), por meio da aplicação do protocolo de observação psicomotora proposto por Borghi e Pantano (2010) em escolares com dificuldades de aprendizagem matriculados na Educação Infantil de um município ao norte do Estado do Paraná.

Neste, as crianças consideradas pelos professores com dificuldades de aprendizagem na Educação Infantil, apresentam níveis de desenvolvimento dos aspectos psicomotores abaixo do esperado para sua faixa etária. Diante do estudo proposto, as autoras elucidam a possibilidade de detectar possíveis problemas já nesta etapa escolar, e assim poder intervir visando diminuir possíveis dificuldades em etapas posteriores de escolarização, afirmam ainda a necessidade da aplicação de planos de intervenção pedagógica para sanar as dificuldades apresentadas pelos escolares da Educação Infantil.

Os aspectos psicomotores devem ser mais estimulados e vivenciados pela criança, já que se colocam como um alicerce para a escolarização dos anos posteriores, auxiliando no processo de alfabetização de maneira preventiva, oportunizando um bom desempenho escolar.

Frente ao exposto, torna-se de suma importância refletir sobre as práticas pedagógicas e metodologias de ensino na Educação Infantil, já que é necessário possibilitar meios para que as crianças pequenas sejam estimuladas em sua integralidade; tais práticas devem estar acompanhadas de intenções, motivações e desejos de se comunicar com o mundo.

Dentre essas práticas pedagógicas, a educação psicomotora na Educação Infantil torna-se uma alternativa metodológica que possibilitará o aprendizado por meio do movimento corporal e da indissociação dos aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores (SOUSA; SILVA, 2013).

Por acreditar que a educação psicomotora poderá auxiliar o aluno a potencializar sua aprendizagem escolar e prevenir possíveis dificuldades de aprendizagem, o objetivo deste estudo pauta-se na investigação das práticas pedagógicas realizadas por docentes da Educação Infantil de uma instituição pública de Educação Infantil, visando identificar de que forma estes trabalham a psicomotricidade em sala de aula.

A relação entre a psicomotricidade e a alfabetização

Para a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2018), o termo Psicomotricidade se refere a uma ciência que estuda o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Refere-se ao processo de maturação, já que o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. O movimento, o intelecto e o afeto são conhecimentos básicos que dão suporte para a psicomotricidade.

Fonseca (2008, p. 1) afirma que a Psicomotricidade pode ser conceituada como “o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências, recíprocas e sistêmicas, entre o psiquismo e a motricidade”.

Fonseca (2012), a partir do modelo Luriano, elenca sete fatores psicomotores: tonicidade; equilíbrio; lateralidade; noção do corpo; estruturação espaço-temporal; praxia global e praxia fina.
A tonicidade e o equilíbrio são responsáveis pela “regulação tônica de alerta e dos estados mentais: Atenção. Sono. Seleção da Informação. Regulação e ativação. Vigilância-tonicidade. Facilitação-inibição. Modulação neurotônica. Integração intersentorial” (FONSECA, 2012, p. 92).

Para Fonseca (2012, p. 110-111) toda motricidade necessita do suporte da tonicidade; esta é o alicerce fundamental para o desenvolvimento motor, “garante, por consequência, as atitudes, as posturas, as mímicas, as emoções.” Assim procedendo, nota-se que o processo de aquisição da escrita necessita de suporte na tonicidade, o pegar no lápis, a desenvoltura dos punhos, das mãos e dedos dependem da tonicidade.

Fonseca (2012, p. 131) define a equilibração como uma “condição básica da organização psicomotora, visto que envolve uma multiplicidade de ajustamentos posturais antigravíticos, que dão suporte a qualquer resposta motora”. Nesse contexto, De Meur e Staes (1989) corroboram com Fonseca (2012), ressaltando que o equilíbrio entre as forças musculares, bem como a flexibilidade e agilidade de cada articulação do membro superior são necessários para a criança dominar o gesto da escrita.

Nota se que o equilíbrio e o tônus são condições para a criança dominar a escrita; por meio de diferentes gestos, a criança aprende a segurar corretamente o lápis. Atividades de estimulação para esses fatores psicomotores contribuem significativamente no processo de aquisição da escrita (DE MEUR; STAES, 1989).

Os fatores lateralidade, noção do corpo e estruturação espaço-temporal, são responsáveis pela:
Recepção, análise e armazenamento da informação: recepção, análise e síntese sensorial. Organização espacial e temporal. Simbolização esquemática. Decodificação e codificação. Processamento. Armazenamento. Integração perceptiva dos proprioceptores dos telerreceptores. Elaboração gnósica (FONSECA, 2012, p. 92).

Constata-se que crianças que apresentam perturbações da lateralidade revelam, como consequências, dificuldades de reconhecimento esquerda-direita, além de não possuir direção gráfica e formar as letras ou números “em espelho”, comprometendo a aquisição da escrita.

Perturbações do esquema corporal são identificadas quando a criança não conhece as partes de seu corpo, não situa bem seus membros ao gesticular e não coordena bem seus movimentos, comprometendo o bom desenvolvimento na leitura e escrita.

Com alterações na estruturação espacial e temporal, as crianças ignoram os termos espaciais, têm dificuldade de orientar-se e organizar-se no espaço, não assimilam a reversibilidade e a transposição e confundem b e d, p e q, no e on, 12 e 21, por exemplo; têm dificuldades em relação ao conceito de ordem, sucessão e ritmo, ocasionando em dificuldades na leitura, escrita e matemática (DE MEUR; STAES, 1989).

Segundo Fonseca (2012, p. 151) “a lateralização humana respeita a progressiva especialização dos dois hemisférios que resultaram das funções sócio históricas da motricidade laboral e da linguagem (motricidade colaboral)”. Para De Meur e Staes (1989), quando uma criança não possui a lateralidade bem definida, apresenta problemas de ordem espacial, dificultando a compreensão da direção gráfica da escrita, ocasionando dificuldades na leitura.

Para Fonseca (2012, p. 167) o corpo é o lugar por onde a comunicação se estabelece. A noção do corpo torna-se de suma importância para o desenvolvimento da aprendizagem da criança, “compreende uma representação mais ou menos consciente do nosso corpo, dinâmica e postural, posicional e espacial, que encerra o revestimento cutâneo que nos põe em contato com o mundo exterior”.

De acordo com Fonseca (2012, p. 184), a estruturação espaço-temporal emerge da motricidade, “das múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização e da noção do corpo”. Dessa forma, compreende-se que a estruturação temporal propicia na criança a consciência da sua ação, o seu passado conhecido, o presente experimentado e o futuro desconhecido é antecipado.

É, portanto, uma estrutura de suma importância para os processos de aprendizagem da criança, já que a estruturação espaço-temporal, associada ao domínio do gesto e a orientação temporal, compõem os três fundamentos da escrita (DE MEUR; STAES, 1989).

Os fatores psicomotores praxia global e praxia fina são responsáveis pela “programação, regulação e verificação da atividade: intenções. Planificação motora. Elaboração práxica. Execução. Correção. Sequencialização das operações cognitivas” (FONSECA, 2012, p. 92).

A praxia global, segundo Fonseca (2012, p. 202) compreende tarefas motoras sequenciais globais, “tem como principal missão a realização e a automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam em um certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares”. Para desencadear a praxia global, faz-se necessária a integração dos fatores psicomotores descritos anteriormente, ou seja, a tonicidade, a equilibração, a lateralização, a noção do corpo e da estruturação espaço-temporal.

Para Fonseca (2012, p. 221) a praxia fina compreende as tarefas motoras sequenciais finas, “está adstrita à função de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção e durante as manipulações de objetos que exigem controle visual”. Compreende também a micromotricidade e a perícia manual, possui uma íntima relação com a percepção visual que é de grande importância para o desenvolvimento da aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo.

Verifica-se que a coordenação global se relaciona às atividades dos grandes músculos e depende da capacidade de equilíbrio do indivíduo, também se associa ao fator esquema corporal. Já a coordenação fina diz respeito à habilidade e destreza manual, constitui-se como um aspecto particular da coordenação global. Perturbações nesses fatores, poderá acarretar dificuldades para realizar os movimentos gráficos da escrita (OLIVEIRA, 2015).

Conforme exposto, compreende-se a necessidade de estimular os fatores psicomotores com crianças na Educação Infantil, haja vista que, comumente, verifica-se no âmbito escolar a existência de alunos que não acompanham o ritmo acadêmico em sala de aula.

Alguns docentes, tentando sanar as dificuldades apresentadas por seus alunos, encaminham-nos para atendimento especializado, quando, na realidade, muitas dessas dificuldades podem ser sanadas dentro da própria sala de aula, implementando a educação psicomotora, prática esta desconhecida por muitos professores (OLIVEIRA, 2015).

Neste sentido, De Meur e Staes (1989) enfatizam que, para a grande maioria das crianças que apresentam alguma dificuldade no processo de escolarização, a causa não está no nível da classe em que chegaram; constata-se a causa do problema nos níveis anteriores, no nível das bases escolares. Reforçam a ideia de que as condições mínimas para uma boa aprendizagem se compõem a estrutura da educação psicomotora.

Nesse âmbito, a educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na Educação Infantil, já que ela condiciona todos os aprendizados, possibilita a criança conscientizar-se do seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a gerir o tempo e a aquisição habitual dos seus gestos e movimentos.

Assim, torna-se recomendável que a criança pratique a educação psicomotora o mais breve possível, já que ampliará suas possibilidades de prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas (LE BOULCH, 1982).

Ao trabalhar a educação psicomotora em sala de aula, o professor possibilitará aos alunos o desenvolvimento dos movimentos neuromusculares que servirão de base para que ele aprenda segurar o lápis, folhear o caderno, definir sua lateralidade, delimitar espaços, diferenciar as formas das letras, enfim, auxiliará na efetivação dos movimentos básicos para seu desempenho escolar.

Também possibilitará à criança a aquisição e desenvolvimento dos elementos psicomotores, ou seja, a coordenação motora, estabelecer noções de esquema corporal, lateralidade, de espaço, tempo e direção, contribuindo para as atividades de leitura e escrita (LORDANI et al., 2017).

Material e Métodos

Participaram da pesquisa 06 professores que atuam na Educação Infantil, com crianças de 4 e 5 anos de idade, matriculadas no Pré-escolar em um Centro Municipal de Educação Infantil- CMEI de uma cidade localizada ao norte do Estado do Paraná.

O instrumento utilizado para a coleta de dados com os professores foi um questionário. De acordo com Lakatos e Marconi (2010, p. 201) o “questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”, e tem por objetivo coletar dados de um grupo correspondente.

Com este, pretendeu-se averiguar a existência da educação psicomotora nas práticas pedagógicas efetivadas pelos professores que atuam na Educação Infantil, por meio da questão: “Você trabalha a psicomotricidade em sala de aula? Exemplifique como”. Os dados foram analisados qualitativamente e discutidos à luz do aporte teórico utilizado.

Para manter preservada a identidade dos participantes, seus nomes foram codificados de P1 à P6. Os professores assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Resultados

Todos os participantes da pesquisa são do gênero feminino e possuem graduação em nível superior, sendo quatro pedagogas e duas licenciadas em Educação Física, com idade entre 24 e 54 anos.
A partir da questão: “Você trabalha a psicomotricidade em sala de aula? Exemplifique como”, os seguintes excertos foram destacados:

P1 “Sim, trabalho todos os dias, através das brincadeiras com jogos. Não tem como na educação infantil não trabalhar com à psicomotricidade.”
P2 “Sim. Através de atividades com circuito psicomotor, como: correr, saltar, agachar e etc.”
P3 “Sim, atividades que façam os alunos pular, rolar, dançar, exercícios com bolas, cordas, andar sobre traçados e outros.”
P4 “Sim, através de jogos e brincadeiras como: jogo da estátua, amarelinha, dança da cadeira, andar sobre uma linha reta desenhada no chão, circuito.”
P5 “Sim, através de jogos e brincadeiras, jogo da amarelinha, corrida do saco, pular corda, corrida da água, sentar nos balões, corrida da batata, jogo da estátua, escravos de jó, dança da cadeira.”
P6 “Sim, como: atividades realizadas no parque, correr, saltar, pular com pé só, com os dois etc. Música: cabeça, ombro, joelho e pé. Atividades em grupo trabalhando socialização com peças, amarelinha e circuito motor.”

Discussão

Analisando os resultados, notou-se que 100% dos participantes afirmaram que trabalham a psicomotricidade em sala de aula com seus alunos, porém não mencionam a palavra “aprendizagem” e não correlacionam o termo psicomotricidade com a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.

Essa constatação remete-nos a refletir sobre a afirmativa de Borghi e Pantano (2010, p. 7), de que “os estímulos psicomotores são imprescindíveis até os seis anos de idade na preparação para a leitura e a escrita”. No entanto, os resultados evidenciaram essa lacuna na compreensão dos professores participantes no que se refere às relações significativas da psicomotricidade com a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.

Diante dos excertos descritos, notou-se que a praxia global foi o fator psicomotor mais citado dentre os participantes. Atividades como: correr, saltar, agachar, pular, rolar, foram mencionadas pelos participantes P2, P3, P5 e P6. A praxia global, conforme exposto por Fonseca (2012) compreende tarefas motoras sequenciais globais que envolvem os grandes músculos, relaciona-se a capacidade de equilíbrio do indivíduo.

Atividades com jogos e brincadeiras foram citadas pelos participantes P1, P4 e P5. No entanto, o participante P1 não exemplificou quais seriam esses jogos e brincadeiras. Já o participante P4 relatou que trabalha o jogo da estátua, a amarelinha e a dança da cadeira, enquanto o participante P5 disse que realiza com os alunos o jogo da amarelinha, a corrida do saco, jogo da estátua e escravos de jó.

Os participantes P3 e P4 apontaram práticas relacionadas aos fatores psicomotores equilíbrio e tonicidade ao relatarem atividades nas quais o aluno caminha sobre traçados ou linhas no chão. Para Borghi e Pantano (2010, p. 13) “o equilíbrio esta relacionado à forma de permanecer estático ou em movimento sobre uma ou mais bases do corpo”.

Em relação a aprendizagem da criança, De Meur e Staes (1989) elencam que o equilíbrio entre as forças musculares, bem como a flexibilidade e agilidade de cada articulação do membro superior são necessários para a criança dominar o gesto da escrita, fundamental no processo de alfabetização.

Os fatores psicomotores lateralidade, estruturação espaço-temporal e praxia fina não foram identificados nos relatos dos professores participantes. Assim, os resultados sinalizam que a psicomotricidade não é trabalhada na sua integralidade com os alunos da Educação Infantil, já que as os excetos dos participantes demonstram práticas pedagógicas que não abordam todos os fatores da psicomotricidade.

Considerações Finais

Os resultados obtidos no presente trabalho proporcionaram uma reflexão acerca da lacuna existente entre a compreensão e aplicabilidade da psicomotricidade em sala de aula e sua correlação com a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática na percepção dos professores participantes da pesquisa.

Por meio da educação psicomotora praticada na Educação Infantil, os aspectos psicomotores devem ser estimulados e vivenciados pela criança desde a mais tenra idade. Estimular os fatores psicomotores em crianças pequenas possibilita o fortalecimento e a construção de um alicerce para a alfabetização nos anos posteriores, auxiliando os escolares de maneira preventiva para que alcancem sucesso em sua trajetória acadêmica.

Diante das discussões elencadas neste trabalho, compreende-se que atualmente a prática pedagógica em sala de aula tem priorizado a construção da língua escrita e do raciocínio lógico, logo, constata-se que a educação psicomotora precisa ser vivenciada no âmbito escolar, experienciar o aluno a essa prática pedagógica, possibilita ampliar suas possibilidades de aprendizagens.

Nesse contexto, o presente trabalho sinalizou a necessidade de aprofundar estudos nesta área, já que revelou uma lacuna na formação de professores em relação à psicomotricidade.

Referências

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MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade. Educação e Reeducação: níveis maternal e infantil. Manole ltda. São Paulo, 1989.
OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade. Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 20ª edição, Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
SOUSA, J. M.; SILVA, J. B. L. A Psicomotricidade na educação infantil. Revista Eventos Pedagógicos, v.4, n.2, p. 128 - 135, ago. – dez. 2013.

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